ARIANO SUASSUNA FAZ ENCERRAMENTO DA FLIPORTO
Choro, maracatu rural, música erudita, canção de Natal. Na aula-espetáculo ministrada em Olinda, na noite deste domingo (18), o escritor Ariano Suassuna provou, com belos exemplos práticos, que a obra do compositor Capiba vai muito além do frevo. A apresentação foi o encerramento da Fliporto 2012. No palco, músicos e dançarinos executaram obras de Capiba, que iam sendo explicadas por Suassuna. Entre uma música e outra, histórias, anedotas, gargalhadas e muitos aplausos.
A apresentação durou aproximadamente duas horas. Logo na introdução, Ariano foi muito aplaudido ao sugerir trocar o nome da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, por Avenida Nelson Rodrigues. “O que é que Pernambuco deve ao Presidente Kennedy?”, questionou Ariano, que nasceu na Paraíba mas é cidadão pernambucano, olindensee recifense. Segundo ele, Nelson Rodrigues, além de grande escritor, era uma grande pessoa. “Ele era muito espirituoso”, disse, relembrando boas histórias do dramaturgo.
O escritor contou à plateia que deixou de usar terno e gravata em 1981, inspirado por um artigo de Mahatma Gandhi, líder da independência indiana. “Ele dizia que o indiano que amasse seu país e seu povo não devia nunca se vestir como os ingleses nem com a roupa feita pelos ingleses. Primeiro, porque estaria virando cúmplice dos invasores. Depois porque ia tirar um dos poucos mercados de trabalho que as mulheres pobres da Índia tinham, que era a costura”, relatou. Desde então, a costureira Edith assumiu a missão de cuidar de seus figurinos. “Comecei a ser barrado nos lugares por aí. Tenho vocação pra ser barrado”, revelou.
Ariano também contou curiosidades sobre sua posse na Academia Brasileira de Letras. Depois de contratar Edith para costurar a roupa e uma bordadeira do Clube das Pás para cuidar dos adornos, ele foi chamado de jeca, mas não deixou por menos. “Bonito não tem ninguém ali, eu era o menos feio. Duas coisas que me impressionaram na ABL: uma foi a feiura. Ô imortais feios! E a outra foi a idade; corri o olho e dava mais de três mil anos!”, brincou.
Para falar do amigo Capiba, mais brincadeiras. “Todo ano ele me dizia, falando sério, ‘Ariano, o melhor time é o Santa Cruz. Os jogadores dos outros times é que não deixam o Santa jogar!’”, contou. Em homenagem ao amigo, o cenário da aula-espetáculo agora é tricolor e cheio de cruzes.
Segundo Ariano, Capiba tinha um bom gosto literário enorme. “Ele era amigo dos meus irmãos mais velhos. Em 1935 começou a musicar os grandes poetas do Brasil”, afirmou. Entre eles, Jorge de Lima, autor de “Calabar”, primeira canção a ser executada no palco, pelos músicos Antônio Madureira (violão), Eltony Nascimento (flauta), Sebastian Poch (violoncelo) e Jerimum de Olinda (percurssão), além dos cantores Ednaldo Cosmo e Isaar França. “Sebastian nasceu na Áustria, mas já foi desapropriado”, brincou Ariano.
“O grande sonho humano do ponto de vista político é encontrar um regime político onde se fundam a justiça e a liberdade. Não é fácil, é muito difícil”, disse Ariano. E foi a introdução para a canção “São os do Norte que vêm”, que compôs em parceria com Capiba em 1967. “Liberdade e justiça é coisa para o futuro, mas a gente tem a obrigação de sonhar com isso”, aconselhou. Em seguida, o grupo cantou a canção, com letra de Manuel Bandeira, “Tu que me deste o teu cuidado”.
“Em 1934 a música e dança afro-brasileiras estavam completamente por baixo. Maracatu rural era proibido de desfilar no Recife. Capiba teve o bom gosto de compor esse belíssimo maracatu chamado ‘Ó de tororó’”, explicou Suassuna. Nesse momento, subiram ao palco os dançarinos Gilson Santana (ou mestre Meia Noite), Any Costa; Pedro Salustiano, Ana Paula Santana e Jafile Nascimento.
Em seguida, Cosmo e Isaar cantaram a música “Cotovia”, também composta por Capiba a partir de um poema de Manuel Bandeira. “Eu gosto mais ainda dessa história porque eu fiz isso que a letra diz. Fiz estripulias e voltei pra casar com aquela Maria ali. É paixão pra vida toda”, declarou-se, apontando a esposa, Zélia, que estava na plateia. A aula espetáculo teve ainda uma canção de Natal composta por Capiba e Carlos Pena Filho, “Sino, claro sino”.
Ariano relembrou sua velha implicância com Michael Jackson ao apresentar o “Choro nº 5”, de Capiba. “Michael Jackson vivia aperreado por ser negro. Dançarino negro de verdade, orgulhoso de sua cor e de seu país, é Mestre Meia Noite!”, defendeu. Em seguida, Ariano lembrou o cangaço – segundo ele “um exemplo extraviado e errado de uma revolta social justa” – com a canção “Cantiga de Jesuíno”, parceria dele com Capiba. Fechando a noite, a canção “João Pernambuco”, composta em homenagem a um ferreiro de Petrolina.
Fonte: http://g1.globo.com/pernambuco/fliporto/2012/noticia/2012/11/ariano-suassuna-encerra-fliporto-com-aula-espetaculo-sobre-capiba.html
A apresentação durou aproximadamente duas horas. Logo na introdução, Ariano foi muito aplaudido ao sugerir trocar o nome da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, por Avenida Nelson Rodrigues. “O que é que Pernambuco deve ao Presidente Kennedy?”, questionou Ariano, que nasceu na Paraíba mas é cidadão pernambucano, olindensee recifense. Segundo ele, Nelson Rodrigues, além de grande escritor, era uma grande pessoa. “Ele era muito espirituoso”, disse, relembrando boas histórias do dramaturgo.
O escritor contou à plateia que deixou de usar terno e gravata em 1981, inspirado por um artigo de Mahatma Gandhi, líder da independência indiana. “Ele dizia que o indiano que amasse seu país e seu povo não devia nunca se vestir como os ingleses nem com a roupa feita pelos ingleses. Primeiro, porque estaria virando cúmplice dos invasores. Depois porque ia tirar um dos poucos mercados de trabalho que as mulheres pobres da Índia tinham, que era a costura”, relatou. Desde então, a costureira Edith assumiu a missão de cuidar de seus figurinos. “Comecei a ser barrado nos lugares por aí. Tenho vocação pra ser barrado”, revelou.
Ariano também contou curiosidades sobre sua posse na Academia Brasileira de Letras. Depois de contratar Edith para costurar a roupa e uma bordadeira do Clube das Pás para cuidar dos adornos, ele foi chamado de jeca, mas não deixou por menos. “Bonito não tem ninguém ali, eu era o menos feio. Duas coisas que me impressionaram na ABL: uma foi a feiura. Ô imortais feios! E a outra foi a idade; corri o olho e dava mais de três mil anos!”, brincou.
Para falar do amigo Capiba, mais brincadeiras. “Todo ano ele me dizia, falando sério, ‘Ariano, o melhor time é o Santa Cruz. Os jogadores dos outros times é que não deixam o Santa jogar!’”, contou. Em homenagem ao amigo, o cenário da aula-espetáculo agora é tricolor e cheio de cruzes.
Segundo Ariano, Capiba tinha um bom gosto literário enorme. “Ele era amigo dos meus irmãos mais velhos. Em 1935 começou a musicar os grandes poetas do Brasil”, afirmou. Entre eles, Jorge de Lima, autor de “Calabar”, primeira canção a ser executada no palco, pelos músicos Antônio Madureira (violão), Eltony Nascimento (flauta), Sebastian Poch (violoncelo) e Jerimum de Olinda (percurssão), além dos cantores Ednaldo Cosmo e Isaar França. “Sebastian nasceu na Áustria, mas já foi desapropriado”, brincou Ariano.
“O grande sonho humano do ponto de vista político é encontrar um regime político onde se fundam a justiça e a liberdade. Não é fácil, é muito difícil”, disse Ariano. E foi a introdução para a canção “São os do Norte que vêm”, que compôs em parceria com Capiba em 1967. “Liberdade e justiça é coisa para o futuro, mas a gente tem a obrigação de sonhar com isso”, aconselhou. Em seguida, o grupo cantou a canção, com letra de Manuel Bandeira, “Tu que me deste o teu cuidado”.
“Em 1934 a música e dança afro-brasileiras estavam completamente por baixo. Maracatu rural era proibido de desfilar no Recife. Capiba teve o bom gosto de compor esse belíssimo maracatu chamado ‘Ó de tororó’”, explicou Suassuna. Nesse momento, subiram ao palco os dançarinos Gilson Santana (ou mestre Meia Noite), Any Costa; Pedro Salustiano, Ana Paula Santana e Jafile Nascimento.
Em seguida, Cosmo e Isaar cantaram a música “Cotovia”, também composta por Capiba a partir de um poema de Manuel Bandeira. “Eu gosto mais ainda dessa história porque eu fiz isso que a letra diz. Fiz estripulias e voltei pra casar com aquela Maria ali. É paixão pra vida toda”, declarou-se, apontando a esposa, Zélia, que estava na plateia. A aula espetáculo teve ainda uma canção de Natal composta por Capiba e Carlos Pena Filho, “Sino, claro sino”.
Ariano relembrou sua velha implicância com Michael Jackson ao apresentar o “Choro nº 5”, de Capiba. “Michael Jackson vivia aperreado por ser negro. Dançarino negro de verdade, orgulhoso de sua cor e de seu país, é Mestre Meia Noite!”, defendeu. Em seguida, Ariano lembrou o cangaço – segundo ele “um exemplo extraviado e errado de uma revolta social justa” – com a canção “Cantiga de Jesuíno”, parceria dele com Capiba. Fechando a noite, a canção “João Pernambuco”, composta em homenagem a um ferreiro de Petrolina.
Fonte: http://g1.globo.com/pernambuco/fliporto/2012/noticia/2012/11/ariano-suassuna-encerra-fliporto-com-aula-espetaculo-sobre-capiba.html
.
Envie um comentário
Carnaval 2020
Está chegando o Sábado de Carnaval22 de fevereiro de 2020
Olinda Hoje no Facebook:
Previsão do Tempo:
Assinar blog por e-mail
Categorias do Blog:
Mapa do Site:
Arquivos do Blog:
- janeiro 2021
- dezembro 2020
- novembro 2020
- outubro 2020
- setembro 2020
- agosto 2020
- julho 2020
- junho 2020
- maio 2020
- abril 2020
- março 2020
- fevereiro 2020
- janeiro 2020
- dezembro 2019
- novembro 2019
- outubro 2019
- setembro 2019
- agosto 2019
- julho 2019
- junho 2019
- maio 2019
- abril 2019
- março 2019
- fevereiro 2019
- janeiro 2019
- dezembro 2018
- novembro 2018
- outubro 2018
- setembro 2018
- agosto 2018
- julho 2018
- junho 2018
- maio 2018
- abril 2018
- março 2018
- fevereiro 2018
- janeiro 2018
- dezembro 2017
- novembro 2017
- outubro 2017
- setembro 2017
- agosto 2017
- julho 2017
- junho 2017
- maio 2017
- abril 2017
- março 2017
- fevereiro 2017
- janeiro 2017
- dezembro 2016
- novembro 2016
- outubro 2016
- setembro 2016
- agosto 2016
- julho 2016
- junho 2016
- maio 2016
- abril 2016
- março 2016
- fevereiro 2016
- janeiro 2016
- dezembro 2015
- novembro 2015
- outubro 2015
- setembro 2015
- agosto 2015
- julho 2015
- junho 2015
- maio 2015
- abril 2015
- março 2015
- fevereiro 2015
- janeiro 2015
- dezembro 2014
- novembro 2014
- outubro 2014
- setembro 2014
- agosto 2014
- julho 2014
- junho 2014
- maio 2014
- abril 2014
- março 2014
- fevereiro 2014
- janeiro 2014
- novembro 2013
- outubro 2013
- setembro 2013
- agosto 2013
- julho 2013
- junho 2013
- maio 2013
- abril 2013
- março 2013
- fevereiro 2013
- janeiro 2013
- dezembro 2012
- novembro 2012
- outubro 2012
- setembro 2012
- agosto 2012
- julho 2012
- junho 2012
- maio 2012
- abril 2012
- março 2012
- fevereiro 2012
- janeiro 2012
- dezembro 2011
- agosto 2011
- março 2011
- janeiro 2011
- novembro 2010
- outubro 2010
- setembro 2010
- agosto 2010
- maio 2010
- abril 2010
- março 2010
- fevereiro 2010
- janeiro 2010
- dezembro 2009
- novembro 2009
- outubro 2009
- setembro 2009
- agosto 2009
- julho 2009
- junho 2009
- maio 2009
- abril 2009
- março 2009
- fevereiro 2009
- janeiro 2009
- dezembro 2008
- novembro 2008
- outubro 2008
- setembro 2008
- agosto 2008
- julho 2008
- junho 2008
- maio 2008
- abril 2008